Livro da pedagoga Miriam Guedes resgata a importância dos sonhos para a realização de nosso propósito e para a construção da identidade. Mostra, ainda, que podemos nos desvencilhar de palavras ou emoções limitantes

Um lugar onde as casas podem ser do formato que quiser (violão, circo, livros, carruagem), um lugar inacreditável, além das montanhas, vales e flores, e onde as pessoas dizem em couro: “Quando uma porta se fecha, outra se abre!”.  Sonho Feliz é esta cidade encantadora.  É nesse cenário, no qual um narrador onisciente observa tudo de uma torre (e, de certa forma, se mescla às personagens da história), que se desenrola a narrativa de O pescador de sonhos.

Escrito pela psicóloga e pedagoga Miriam Guedes, este livro (lançamento da Leitura e Arte Editora) é um chamado para que as crianças reflitam sobre seus medos, suas crenças limitantes e sobre aquelas palavras que nos bloqueiam e nos impedem de crescer. “Quis mostrar também que temos que sonhar, quando nos falta sonho, vida, propósito e projetos.  O sonho é que nos move a sair do nosso estado de estagnação e nos faz realizar coisas”, diz a autora. Miriam trabalhou na biblioteca Monteiro Lobato e, depois dessa experiência, conta que a vontade que já existia de escrever um livro infantil aflorou ainda mais. “Eu percebi que para o público de 9 a 11 anos, chamado de leitor intermediário, não há muitas publicações que integrem, de maneira instigante, imagens que dialoguem bem com o texto. Então, resolvi me aventurar”, completa.

O pescador de sonhos é seu primeiro livro infantojuvenil e conta os percalços de Otto, um menino comprido, um tanto desajeitado e bastante perdido. Otto não tinha sonho, era taciturno e caladão, mas quando chega a Sonho Feliz encontra a falante e provocadora Frederica. Ela o assusta logo de cara porque avisa: “Vou te explicar uma coisa, aqui não tem casas para vender... quando as pessoas sonham, suas casas aparecem”. Só que o problema é que Otto não sabe sonhar. “Otto tinha uma grande questão e a raiz dela era o complicado relacionamento com os pais, ele não tinha identidade. Quando vai em busca da cidade dos sonhos, da qual ele já tinha ouvido falar, de certa forma, ele quer tentar resgatar sua identidade, mesmo sem saber como ou sem saber racionalmente”, revela Miriam.  

Ao criar as personagens que auxiliam Otto nessa jornada pela redescoberta de seus sonhos e de seus propósitos, Miriam mostra que a vida é feita de transformações; que é possível nos reinventarmos; e que, mesmo que nosso cérebro molde as experiências, especialmente as traumáticas, há um lugar de acolhimento e escuta. O sábio Baruk, por exemplo, uma das pessoas mais encantadoras que o menino encontrará em seu caminho, leva-o a refletir sobre o motivo de suas atitudes, sem o criticar, trazendo-lhe pão e água, mostrando possibilidades.

Para dar vida e força a esse lugar peculiar, divertido e delicado, a autora convidou a ilustradora Cris Eich, que já ilustrou diversos livros infantis e didáticos, e foi também colaboradora da revista Recreio por dez anos. Seu trabalho em aquarela foi inspirado em pintores aquarelistas e dá voz complementar à mensagem do texto. “O pescador é um livro para crianças, mas a pintura não tem limite etário, pois deve ser convidativa para todos os olhares. Cada página dupla é como uma tela a ser pintada, onde todos os elementos devem estar em equilíbrio para que possam ser lidos e compreendidos”, relata Cris. Segundo ela, a personagem mais desafiante desta narrativa foi Otto: “O protagonista é sempre o mais difícil, porque precisa se expressar pelo gestual, pela expressão facial e ainda transmitir simpatia ao leitor”.

O pescador de sonhos é uma obra para ler e reler vagarosamente, descobrindo novos olhares, olhares de esperança. Esse viés é bem costurado na simbiose entre texto e imagem. “Na ilustração, o caminho por onde passarão os olhos, a leitura de cada palavra e as pausas nas cores e formas da ilustração, tudo deve funcionar afinado”, finaliza Cris Eich.

 

Sobre a autora

Miriam Guedes nasceu em Buritizal (SP) e atualmente reside em São Joaquim da Barra (SP). Estudou Pedagogia, História e Psicologia, foi professora de alfabetização no sistema público, ensinando muitas crianças a ler e a escrever. Trabalhou na biblioteca escolar Monteiro Lobato, onde sua paixão pela literatura infantil e juvenil cresceu.  Nessa época, começou a escrever seus primeiros contos.

É autora do livro Costureiras de corações (Editora Unifran), poemas em prosa para adultos. O pescador de sonhos é seu primeiro livro infantojuvenil. Além da literatura, participa voluntariamente de projetos sociais e palestras direcionadas à orientação familiar para pais de crianças e adolescentes. O pescador de sonhos foi escrito com base em seu contato e experiências com crianças e adolescentes, ao perceber e dialogar a respeito de seus conflitos e bloqueios que tanto dificultam o encontro do caminho de suas vidas.

 

Sobre a ilustradora

 Chris Eich é aquarelista e artista gráfica. Iniciou sua carreira na área de publicidade, como ilustradora e diretora de arte. A partir de 1990, passou a se dedicar ao mercado editorial, nas áreas do livro didático e da literatura infantil e juvenil, colaborando em mais de oitenta livros de autores como Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Tatiana Belinky, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Lewis Carroll, Silvana Salerno, Fernando Nuno, Sérgio Caparelli, dentre outros.

É autora de dois livros de imagem: Longas sombras (Sesi-SP) e Do outro lado da rua (Positivo), além dos livros ilustrados Doze dias com minha avó (publicação independente), Quem você trouxe (Paulinas) e Cadê os bichos (Bambuzinho). Realiza também oficinas e palestras para crianças, jovens e público da terceira idade, abordando temas como o desenho, a aquarela e o processo de ilustração de livros.

 

Ficha Técnica
Páginas: 44
Formato: 20,5 x 27,5cm
Capa: brochura
Edição: 1ª
Ano: 2021