Leitura e Arte Editora
Leitura e formação de leitores: escolhas, hábitos e afetos
BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO
O maior evento literário da América Latina, será totalmente online e gratuito. O evento acontecerá de 7 a 13 de dezembro e terá como conceito “Conectando Pessoas e Livros”.
Deve reunir leitores, escritores, parceiros, editores, distribuidores, livrarias e tantos outros profissionais do mercado editorial, em encontros com as portas abertas para o mundo. Na plataforma vai ser possível assistir a palestras, comprar livros e realizar negócios.
Live no dia 13/12 às 15h
com as autoras Edith Chacon e Paula Strano, com mediação de Regiana Carvalho diretora da Leitura e Arte
Tema: Leitura e formação de leitores: escolhas, hábitos e afetos
Breve descrição:
A formação do leitor é um processo que começa muito antes de a criança aprender a ler palavras e envolve inúmeras experiências vividas, tanto em casa, quanto na escola ou em qualquer lugar onde ela tenha acesso a livros e leitores mais experientes, que sejam pontes entre os textos e o leitor em formação. Por isso, a mediação de leitura é extremamente importante e precisa ser feita conscientemente, independente do espaço, para que sejam criados vínculos com os textos e também uma rotina de leitura que permita o desenvolvimento de um hábito. Além disso, a escolha de bons e variados livros, que contemplem uma diversidade de temas e de gêneros, é fundamental, assim como deve ser cuidadosamente pensada para que a criança seja cercada por boas referências e possa desenvolver seus próprios vínculos de afeto com a literatura.
Para saber mais sobre a programação e conhecer os expositores, basta fazer o cadastro na plataforma: https://www.bienalvirtualsp.org.br/cadastrar.
Uma terra de acolhimento, achados e esperança
Livro da pedagoga Miriam Guedes resgata a importância dos sonhos para a realização de nosso propósito e para a construção da identidade. Mostra, ainda, que podemos nos desvencilhar de palavras ou emoções limitantes
Um lugar onde as casas podem ser do formato que quiser (violão, circo, livros, carruagem), um lugar inacreditável, além das montanhas, vales e flores, e onde as pessoas dizem em couro: “Quando uma porta se fecha, outra se abre!”. Sonho Feliz é esta cidade encantadora. É nesse cenário, no qual um narrador onisciente observa tudo de uma torre (e, de certa forma, se mescla às personagens da história), que se desenrola a narrativa de O pescador de sonhos.
Escrito pela psicóloga e pedagoga Miriam Guedes, este livro (lançamento da Leitura e Arte Editora) é um chamado para que as crianças reflitam sobre seus medos, suas crenças limitantes e sobre aquelas palavras que nos bloqueiam e nos impedem de crescer. “Quis mostrar também que temos que sonhar, quando nos falta sonho, vida, propósito e projetos. O sonho é que nos move a sair do nosso estado de estagnação e nos faz realizar coisas”, diz a autora. Miriam trabalhou na biblioteca Monteiro Lobato e, depois dessa experiência, conta que a vontade que já existia de escrever um livro infantil aflorou ainda mais. “Eu percebi que para o público de 9 a 11 anos, chamado de leitor intermediário, não há muitas publicações que integrem, de maneira instigante, imagens que dialoguem bem com o texto. Então, resolvi me aventurar”, completa.
O pescador de sonhos é seu primeiro livro infantojuvenil e conta os percalços de Otto, um menino comprido, um tanto desajeitado e bastante perdido. Otto não tinha sonho, era taciturno e caladão, mas quando chega a Sonho Feliz encontra a falante e provocadora Frederica. Ela o assusta logo de cara porque avisa: “Vou te explicar uma coisa, aqui não tem casas para vender... quando as pessoas sonham, suas casas aparecem”. Só que o problema é que Otto não sabe sonhar. “Otto tinha uma grande questão e a raiz dela era o complicado relacionamento com os pais, ele não tinha identidade. Quando vai em busca da cidade dos sonhos, da qual ele já tinha ouvido falar, de certa forma, ele quer tentar resgatar sua identidade, mesmo sem saber como ou sem saber racionalmente”, revela Miriam.
Ao criar as personagens que auxiliam Otto nessa jornada pela redescoberta de seus sonhos e de seus propósitos, Miriam mostra que a vida é feita de transformações; que é possível nos reinventarmos; e que, mesmo que nosso cérebro molde as experiências, especialmente as traumáticas, há um lugar de acolhimento e escuta. O sábio Baruk, por exemplo, uma das pessoas mais encantadoras que o menino encontrará em seu caminho, leva-o a refletir sobre o motivo de suas atitudes, sem o criticar, trazendo-lhe pão e água, mostrando possibilidades.
Para dar vida e força a esse lugar peculiar, divertido e delicado, a autora convidou a ilustradora Cris Eich, que já ilustrou diversos livros infantis e didáticos, e foi também colaboradora da revista Recreio por dez anos. Seu trabalho em aquarela foi inspirado em pintores aquarelistas e dá voz complementar à mensagem do texto. “O pescador é um livro para crianças, mas a pintura não tem limite etário, pois deve ser convidativa para todos os olhares. Cada página dupla é como uma tela a ser pintada, onde todos os elementos devem estar em equilíbrio para que possam ser lidos e compreendidos”, relata Cris. Segundo ela, a personagem mais desafiante desta narrativa foi Otto: “O protagonista é sempre o mais difícil, porque precisa se expressar pelo gestual, pela expressão facial e ainda transmitir simpatia ao leitor”.
O pescador de sonhos é uma obra para ler e reler vagarosamente, descobrindo novos olhares, olhares de esperança. Esse viés é bem costurado na simbiose entre texto e imagem. “Na ilustração, o caminho por onde passarão os olhos, a leitura de cada palavra e as pausas nas cores e formas da ilustração, tudo deve funcionar afinado”, finaliza Cris Eich.
Sobre a autora
Miriam Guedes nasceu em Buritizal (SP) e atualmente reside em São Joaquim da Barra (SP). Estudou Pedagogia, História e Psicologia, foi professora de alfabetização no sistema público, ensinando muitas crianças a ler e a escrever. Trabalhou na biblioteca escolar Monteiro Lobato, onde sua paixão pela literatura infantil e juvenil cresceu. Nessa época, começou a escrever seus primeiros contos.
É autora do livro Costureiras de corações (Editora Unifran), poemas em prosa para adultos. O pescador de sonhos é seu primeiro livro infantojuvenil. Além da literatura, participa voluntariamente de projetos sociais e palestras direcionadas à orientação familiar para pais de crianças e adolescentes. O pescador de sonhos foi escrito com base em seu contato e experiências com crianças e adolescentes, ao perceber e dialogar a respeito de seus conflitos e bloqueios que tanto dificultam o encontro do caminho de suas vidas.
Sobre a ilustradora
Chris Eich é aquarelista e artista gráfica. Iniciou sua carreira na área de publicidade, como ilustradora e diretora de arte. A partir de 1990, passou a se dedicar ao mercado editorial, nas áreas do livro didático e da literatura infantil e juvenil, colaborando em mais de oitenta livros de autores como Monteiro Lobato, Cecília Meireles, Tatiana Belinky, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Lewis Carroll, Silvana Salerno, Fernando Nuno, Sérgio Caparelli, dentre outros.
É autora de dois livros de imagem: Longas sombras (Sesi-SP) e Do outro lado da rua (Positivo), além dos livros ilustrados Doze dias com minha avó (publicação independente), Quem você trouxe (Paulinas) e Cadê os bichos (Bambuzinho). Realiza também oficinas e palestras para crianças, jovens e público da terceira idade, abordando temas como o desenho, a aquarela e o processo de ilustração de livros.
Ficha Técnica
Páginas: 44
Formato: 20,5 x 27,5cm
Capa: brochura
Edição: 1ª
Ano: 2021
Gerações que se completam
LEITURA E ARTE ENTREVISTA Fernando Pires
LEITURA E ARTE ENTREVISTA
Fernando Pires
por Taís Lambert, outubro de 2020.
Foto: Acervo particular
Taís Lambert - Fernando, onde você nasceu e quantos anos você tem? Onde você mora atualmente (o nome da cidade)?
Fernando Pires - Nasci na cidade de São Caetano do Sul. Atualmente moro na cidade de São Paulo e tenho 55 anos.
Taís Lambert - Qual é a sua formação acadêmica e seus interesses profissionais?
Fernando Pires - Sou arquiteto por formação e, portanto, gosto de tudo relacionado a desenho, desde uma cidade até um utensílio doméstico, como uma cadeira ou até mesmo o desenho de um livro. Foi assim que comecei a escrever e ilustrar histórias infantojuvenis.
Taís Lambert - Você já ilustrou outros livros infantis? Qual é sua relação com esse tipo de trabalho e com esse público?
Fernando Pires - Sim, já ilustrei outros livros de literatura além do Somos o que somos, mas nem sempre, da Edith Chacon. Entre os autores para os quais ilustrei estão Tatiana Belinky, Daniel Munduruku, Graziela Hetzel, Glaucia Lewicki, Yolanda Reyes, Sandra Pina, Júlio Emílio Braz, Fátima Parente, Danda Prado e outros, além ter feito ilustrações para livros didáticos. Fora estes, ilustrei todos os quase vinte livros que publiquei como autor.
Fernando Pires - Escrever e ilustrar para o público infantojuvenil é um desafio bastante grande, apesar de não parecer. Uma criança não sabe mentir, se ela não gosta do seu livro, ela vai falar, diferente da maioria dos adultos, e vai se desinteressar logo. Então a minha responsabilidade como autor e ilustrador é a de fazer um livro que agrade, mas que em primeiro lugar instigue. Tanto o texto como as imagens têm que ser provocativas e ter detalhes interessantes, muitas vezes até escondidos para serem encontrados. Eu gosto de usar desenhos acessíveis para os pequenos, de forma que eles possam falar “esse desenho eu consigo fazer”, que foi o que um aluno de uma escola me disse. E eu fiquei superfeliz porque essa era a minha intenção com aquele livro, que eu estava apresentando na escola. Mas o que me deixa feliz mesmo é quando um detalhe quase imperceptível do desenho ou da história é descoberto por uma criança. Ver o rosto deles nessa hora, a hora da descoberta, é a melhor coisa que existe.
Taís Lambert - Como foi a escolha do tipo de ilustração que usaria? Como se deu seu processo criativo?
Fernando Pires - Quando fui apresentado ao Somos o que somos, mas nem sempre, fiquei encantado com a história porque achei a temática muito atual, além disso, ela me fez lembrar de historinhas infantis daquelas em que os animais se portam como pessoas, vestem roupas, têm casas semelhantes às nossas, têm rotinas semelhantes às nossas... Era um desafio unir uma temática atual com animaizinhos de contos de fadas. Então a primeira ideia foi caracterizar os personagens como animais, no caso insetos, mas que se portavam como pessoas. Os primeiros esboços iam nesse sentido, então eu troquei ideias com a Edith, conversamos bastante sobre a identificação que o leitor teria com as ilustrações e personagens, e o desenho foi evoluindo para o desenho final, onde, apesar de os personagens principais serem insetos, eles têm rostos e proporções humanas, mesmo tendo asas e antenas! Achamos que dessa forma conseguimos unir as historinhas de animais, que vestem roupas, com o tema, que é bastante instigante e atual.
Taís Lambert - Desculpe a minha ignorância (!), mas, há um nome que designe o tipo de ilustração que você utiliza no livro?
Fernando Pires - A técnica utilizada é a aquarela sobre papel, ou seja, é uma técnica tradicional, onde se utilizam pigmentos naturais sobre papel físico, e não digital. A técnica a ser usada é uma decisão que tem que ser tomada logo no início. Toda história pede um meio de se expressar visualmente. Não quer dizer que haja uma regra, cada artista, cada ilustrador vai desenvolver ilustrações diferentes para um mesmo livro e isso não vai fazer com que haja maneiras certas ou erradas de se fazer. São escolhas, muitas vezes baseadas na técnica que o ilustrador mais aprecia, ou então no que o livro pede. Esse foi o caso para mim. Era importante que as ilustrações tivessem forte relação com o tema principal da história, que é o de não conformismo. A personagem principal, a Pernilonguinha, não quer fazer o trabalho que um pernilongo costuma fazer. Ela tem outros interesses, ela prefere o mel e as flores ao sangue. Então imaginei que ela teria que ser diferente dos seus pais. Enquanto eles se vestem formalmente e usam preferencialmente a cor vermelha, a Pernilonguinha prefere usar cores, e todas misturadas de preferência. Imaginei que assim eu representaria bem o seu lado de não se conformar com uma situação que foi imposta a ela. Então, nesse ponto, a aquarela me pareceu uma maneira agradável e interessante de relacionar suas roupas coloridas com as muitas flores que aparecem no livro. Como a aquarela permite transparências, consegui uma multiplicação de nuances muito grande, o que me agradou e me deu certeza de que era o melhor caminho, sempre pensando que isso seria interessante para representar a personagem e sua preferência por flores. Aliás, eu fiz questão de que as flores com suas cores fossem elementos marcantes para representar o pensamento da personagem. É quase uma marca do livro e elas aparecem até mesmo nas capas internas. Imaginei que seu cabelo também deveria ser bastante solto, rebelde mesmo, para contrastar com o cabelo certinho dos pais, e assim evidenciar mais a sua rebeldia. Em uma determinada parte do livro e na capa, os cabelos até parecem ter vida própria.
Taís Lambert - A imagem, geralmente, chama a atenção primeiro que o texto. Pensando nisso, qual a importância que você credita ao trabalho do ilustrador, principalmente em se tratando de livros infantis?
Fernando Pires - Nós vivemos mesmo numa sociedade que valoriza em excesso as imagens, deixando muitas vezes o conteúdo de lado. Como eu sou escritor também, eu vivo nesses dois lados e tento não supervalorizar nem um nem outro lado. Tratando especificamente de livros infantojuvenis, acredito que o trabalho do ilustrador precisa ser muito responsável para dar o correto tratamento ao texto do autor. De preferência, que o livro tenha uma unidade coerente, e que a relação entre texto e imagens tenha harmonia e diálogos interessantes. Acredito que dessa forma quem sai ganhando é o leitor.